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domingo, 22 de abril de 2012

IMC.


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Introdução

Nos dias atuais, a obesidade atinge números epidemiológicos, consideração feita inclusive pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) (1). No Brasil, nas últimas décadas, ocorreu uma mudança no que diz respeito ao padrão de alimentação (2) no qual o país passou de uma prevalência de desnutrição para a prevalência da obesidade. Nas regiões norte e sudeste do Brasil ficou constatado que mais de 50% da população feminina têm sobrepeso e/ou obesidade (3).

Para tanto, se faz de extrema importância a identificação das pessoas obesas; neste estudo, o diagnóstico e avaliação da obesidade infantil. Quanto mais cedo for realizado este diagnóstico e avaliação da obesidade em crianças, mais cedo pode-se intervir e prevenir (4) as futuras complicações que esta criança possa desenvolver como: doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, alguns tipos de cânceres, diabetes tipo 2, (1,2,3,4,5); além de distúrbios psicosociais (5,6).

Tendo o diagnóstico pode-se minimizar o aumento da obesidade infantil, que se deve a fatores relacionados à grandes mudanças do progresso das últimas décadas, no qual se verifica que a obesidade é inversamente relacionada com à prática de atividade física (2), responsáveis pela utilização sistemática de computador, televisão, videogame pelas crianças; assim como, alta ingestão de alimentos com alto teor de gorduras e calorias, e pobres em fibras (2, 4).

A avaliação para a descoberta da doença – obesidade - deve ser eficaz para a população que se propõe avaliar. A OMS indica a antropometria como sendo o método mais útil na detecção de pessoas obesas (1), e atualmente o índice de massa corporal (IMC), é o método mais utilizado (3).

O presente estudo tem como finalidade apresentar a técnica para avaliação e diagnóstico da obesidade infantil através do Índice da Massa Corporal (IMC) por ser o mais utilizado e recomendado para o seguinte grupo da obesidade, discutindo a respeito das vantagens, desvantagens e críticas do IMC através de uma revisão de literatura, incluindo as mais utilizadas equações de preditivas da gordura corporal para crianças.
Obesidade Infantil

A obesidade se caracteriza pelo excesso de gordura corporal, em se tratando da massa corporal total e não simplesmente do excesso de massa corporal para uma determinada estatura (7). Esta relação que pode ser feita inclusive, pelo conseqüente desequilíbrio existente entre a ingesta calórica (8) e o gasto energético de um indivíduo (8, 9).

Quando se tem um excesso de ingesta alimentar caracterizado pelo consumo de alto teor de gordura e baixo gasto energético faz com que a pessoa acumule gordura corporal, o que ao longo do tempo e do estilo de vida desta pessoa, seja considerada obesa.

Nos Estados Unidos a obesidade infantil já é considerada uma epidemia (10, 11, 12), 33% dos adultos são considerados obesos (10), e atualmente a epidemia não afeta somente adultos, já é considerada uma epidemia em crianças inclusive (9). Isso pode ser explicado pela queda no gasto energético das crianças (10) e pelo alto consumo de alimentos extremamente calóricos. Diversos fatores contribuem para a diminuição do nível de atividade física em crianças, como por exemplo a televisão, vídeo - game, computador (4, 8, 13, 14, 15, 16), e até mesmo falta de espaços próprios para brincadeiras, muitas crianças vivem em apartamentos. Outro fator é o risco de brincar na rua, devido ao grande número de carros, violência. Estudos mostram que o meio ambiente influencia no estilo de vida de uma criança, tendo a seu favor hábitos saudáveis ou não, incluindo pais obesos (12, 17).

Existe um aumento do risco de obesidade infantil quando um parental, ou dois são obesos. Pelo fato deste parental geralmente, desde a infância não ter tido hábitos nutricionais saudáveis e pequeno gasto energético, conseqüentemente propiciando um estilo de vida inadequado para toda família (18).

Em relação à alimentação o consumo de alimentos ricos em gordura e baixo em fibras associados ao baixo gasto energético é muito comum (19, 20, 21, 22). O consumo de salgadinhos, frituras, fast-food, refrigerantes, bolachas recheadas, é muito característico na obesidade infantil; assim como, o baixo ou ausente consumo de legumes, verduras e frutas caracterizando o péssimo estilo de vida das crianças obesas (21, 22).

O estilo de vida comprometedor também se refere à queda no nível de atividade física trazendo consigo graves conseqüências às crianças, primeiro tornando-as obesas e com isso, os problemas gerados por esta doença (11, 23, 24); ou seja, hipertensão arterial, risco de diabetes tipo 2, e o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas, apnéia do sono, asma e alguns tipos de cânceres (2, 3, 18, 19, 25).

Uma criança obesa tem mais riscos se tornar um adulto obeso caso não venha a ser realizada uma intervenção, tornando-se um adulto obeso. A criança continuará a desenvolver as doenças correlacionadas à obesidade correndo conseqüentemente risco de morte (24, 25, 26, 27).

Com o objetivo de realizar uma intervenção precoce a respeito da obesidade infantil, fazendo com que a doença seja controlada e a criança volte a ter o peso adequado para sua idade, se faz necessário o prévio diagnóstico da obesidade; e para tanto, métodos adequados de avaliação corporal para os devidos fins.
IMC: Técnica e Diagnóstico da Obesidade Infantil

Para que os resultados obtidos com a avaliação da composição corporal possam ser considerados, tem-se a necessidade de que a técnica que venha ser escolhida atenda a critérios, garantindo ser utilizada corretamente pelo avaliador, além de ser adequada para o indivíduo ou grupo que venha a ser avaliado (28). Sendo assim os principais critérios são: a) validade: grau em que o teste mede aquilo em que se propõe a medir; b) fidedignidade: grau em que se espera ser os dados consistentes, quando um grupo de indivíduos é examinado pelo mesmo observador, nas mesmas condições, em momentos diferentes, e geralmente ficam próximos entre si; c) objetividade: grau em que se espera a consistência nos resultados, quando o teste é aplicado por diferentes avaliadores, nas mesmas condições, em um mesmo grupo de indivíduos; d) padronização das instruções: deve ser feita com a finalidade de comparar os resultados de diferentes locais (28).

Assim sendo, se faz de extrema importância que técnicas utilizadas para detectar obesidade infantil atendam aos critérios descritos e para tanto a importância da apresentação das técnicas de IMC atualmente utilizadas e apresentadas para a população em questão, por atualmente ser a mais utilizada em estudos populacionais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a antropometria como método mais indicado para a identificação de pessoas obesas, por ser um método de baixo custo, universalmente aplicável e com uma boa aceitação pela população. A OMS, na década de 60, sistematizou a antropometria como método de avaliação do estado nutricional a partir de estudos desenvolvidos na década de 50, a partir de então a antropometria se desenvolveu rapidamente em países industrializados, o que ocorreu somente na década de 70 nos países em desenvolvimento (22).

Atualmente o Índice de Massa Corporal (IMC) é o método antropométrico mais utilizado, foi desenvolvido no século passado por Lambert Adolphe Jacques Quetelet, um matemático belga, sendo calculado pela fórmula peso (em Kg) dividido pelo quadrado da altura (em metros) (3).

Estudos realizados em adultos permitiram que o uso do IMC fosse realmente eficaz, e pontos de corte foram estabelecidos a fim de identificar adultos como sendo pessoas com baixo peso, normais, sobrepeso e obesidade (tio I, II e III), pode-se acompanhar o IMC de corte pela Tabela 1, com os valores propostos pela Organização Mundial da Saúde (29).

Para a utilização da Tabela um é necessário a utilização da fórmula de IMC em adultos e posteriormente a comparação do resultado com os IMC de corte, diagnosticando e identificando a real situação de composição corporal e estado nutricional dos indivíduos em questão.

Tabela 1. Classificação de Sobrepeso e Obesidade pelo IMC


Adaptado de WHO (1997)

Entretanto estes valores de classificação não podem ser utilizados para crianças e adolescentes, estudos realizados com crianças e adolescentes de todo o mundo conseguiram propor pontos de corte para o acompanhamento do crescimento com a utilização de tabelas e gráficos de crescimento, tendo os intervalos compatíveis com a velocidade de crescimento em função da idade (22, 30).

O percentil permite estimar quantas crianças são maiores ou menores em relação ao parâmetro avaliado, eles são derivados da distribuição em ordem de um parâmetro que são observados para uma determinada faixa etária ou sexo (22).

Para se montar uma tabela ou gráfico deve-se: a) Escolher uma população e dividi-la por faixa etária, b) Obter a massa corporal em quilogramas e estatura em metros, c) Utilizar a fórmula de IMC, para a obtenção do índice de massa corporal, d) Utilizando recursos de programas estatísticos específicos, obter a média de IMC por idade (e sexo, se desejar) e a sua distribuição entre os percentis. Este processo foi utilizado na Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1989 e podem ser observados na Tabela 2 e no Gráfico 1, no qual pode-se analisar a situação da população feminina brasileira, a Tabela 3 a Gráfico 2, a situação da população masculina (31).

Tabela 2. Distribuição dos valores do índice de massa corporal (kg/m²) da população feminina brasileira em função da faixa etária, Brasil, 1989*.

* Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989.

Existe inclusive uma tabela proposta em 2000, a partir de estudos populacionais de países como: Brasil, Inglaterra, Hong Kong, Nova Zelândia, Singapura e Estados Unidos da América (30), no qual foram idealizados pontos de corte de IMC para sobrepeso (25 Kg/m²) e obesidade (30 Kg/m²), para crianças de 2 a 18 anos de idade, podendo ser acompanhados na Tabela 3.

Tabela 3. Valores de IMC propostos por Cole et al. Para ponto de corte para identificar sobrepeso e obesidade em crianças, adolescentes e adultos.


Fonte: Cole et al (2000)

Isto é interessante pelo fato de se poder comparar se o sobrepeso ou obesidade estimados a partir de estudos populacionais realizados em um país específico, está dentro da média internacional.

Entretanto, quando o objetivo não é a comparação entre países, se faz de grande importância a comparação dos índices de IMC da população com estudos epidemiológicos já realizados nessa mesma população, para se ter uma melhor percepção da situação destes indivíduos especificamente. Isso é necessário pelo fato de ser inconveniente, se diagnosticar pessoas de países em desenvolvimento com populações de países industrializados, com questões sociais totalmente diferentes; assim sendo, quanto menor a lacuna social, nutricional e de crescimento menor serão os erros da pesquisa (14, 22, 30).

Para se fazer o diagnóstico da obesidade infantil foram realizados diversos estudos populacionais até se conseguir obter os pontos de corte a fim de correlacionar o IMC com sobrepeso e obesidade em crianças. O percentil P95 para o IMC foi proposto como ponto de corte para crianças obesas nos Estados Unidos e é adotado nos estudos atuais, mas se recomendam mais estudos para que este percentil seja internacionalmente utilizado e correto em todos os países (20, 30). Em relação ao diagnóstico por tabelas e gráficos estudos utilizam: a) IMC entre P85 e P95 diagnosticando crianças com sobrepeso, b) IMC acima do P95 diagnosticando crianças obesas (20, 30).

Esse tipo de análise pode levar a conclusões não representativas, no caso do ponto de corte ser mais que P95 para determinar obesidade e maior que P85 determinar sobrepeso, se conclui que 5 e 15 % da população são respectivamente, obesa ou com excesso de peso e isso não necessariamente é correto (32).

Outro cuidado significativo que se deve ter é o fato de que nos países em desenvolvimento grande parte da população apresenta baixa estatura, em decorrência de desnutrição infantil, e ao longo de seu desenvolvimento. Portanto, utilizar como parâmetro IMC obtidos de populações, cuja população pode levar mais tempo para atingir os padrões de crescimento recomendáveis normais para a idade pode levar a erros no diagnóstico da obesidade. Neste caso, não se recomenda o uso de dados de massa corporal e estatura – nem de índices de massa corporal – obtidos a partir de estudos desenvolvidos em países industrializados para países em desenvolvimento (14).

Como anteriormente discutido o IMC por idade é a técnica mais recomendada para a predição da obesidade infantil, entretanto é questionada devido a não identificação da porcentagem de gordura corporal; assim sendo, será apresentado a seguir um método no qual se consegue obter este tipo de informação, são as equações preditivas que identificam a gordura corporal em crianças.
Conclusão

Atualmente a recomendação para a estimativa de sobrepeso e obesidade dos 2 aos 20 anos de idade, é o IMC por idade, como discutido anteriormente. É preciso conseqüentemente desenvolver intervenções que possam auxiliar em uma melhora da saúde das crianças obesas ou com sobrepeso, para que os riscos causados por essa doença sejam controlados e venham a desaparecer com a mudança dos péssimos hábitos que estão sendo adquiridos por essa nova gerações.




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